Planejamento sucessório para famílias de alta renda

02/09/2025
  • Planejamento sucessório para famílias de alta renda

O desafio cultural do planejamento sucessório no Brasil

Em um país que já conta com 433 mil milionários e ocupa a liderança na América Latina e a 19ª posição mundial em concentração de riqueza, segundo o Relatório Global de Riqueza 2025 do UBS, o planejamento sucessório ainda é uma prática culturalmente incipiente no Brasil.

Enquanto pessoas de alta renda normalmente priorizam rentabilidade e atendimento personalizado em serviços financeiros, especialistas alertam que esses mesmos indivíduos frequentemente negligenciam as estratégias para transferência de seu patrimônio entre gerações, um erro que pode resultar em:

  • Conflitos familiares significativos
  • Perdas patrimoniais consideráveis
  • Bloqueios judiciais prolongados

"Muitos clientes nem sabem que existe algo como planejamento sucessório. Isso porque não gostam de pensar quando isso vai acontecer. No Brasil, esse tipo de planejamento ainda é uma prática culturalmente incipiente, diferente de países como os Estados Unidos, onde a questão é mais natural e abrangente", explica Sharon Halpern, especialista em wealth management.

A personalização é elemento fundamental para um planejamento sucessório eficaz. Não existe uma "receita de bolo" aplicável a todos os casos, sendo necessário considerar:

  • Estrutura familiar específica
  • Volume de patrimônio existente
  • Fontes de renda diversificadas
  • Situação profissional (CLT, empreendedor)

Previdência privada: agilidade com limitações

A previdência privada destaca-se como uma ferramenta bastante utilizada em planejamentos sucessórios, principalmente pela facilidade na transferência dos recursos aos beneficiários. Existem dois principais tipos disponíveis no mercado:

  • PGBL (Plano Gerador de Benefício Livre)
  • VGBL (Vida Gerador de Benefício Livre)

Uma das principais vantagens é que os recursos aplicados via previdência não entram em inventário, processo que pode ser longo e oneroso. Isso significa que os beneficiários recebem o valor diretamente, com maior agilidade.

No entanto, apesar de ser um ótimo instrumento, a previdência privada não é recomendada como única estratégia de planejamento sucessório, pois exige um período de acumulação para seu pleno benefício.

"A gente vai usar apenas a previdência quando não for possível fazer um seguro, no caso de pessoas que já ultrapassaram a idade limite para contratar", explica Halpern.

Seguro de vida: liquidez imediata e proteção patrimonial

O seguro de vida tem ganhado destaque como ferramenta estratégica no planejamento sucessório para famílias de alta renda. Segundo dados da Susep (Superintendência de Seguros Privados), o mercado brasileiro de seguros de pessoas arrecadou mais de R$ 105 bilhões no primeiro trimestre de 2025, um crescimento de 2,3% em relação ao mesmo período do ano anterior.

Principais vantagens do seguro de vida para sucessão:

  • O capital segurado não entra no inventário
  • Acelera o pagamento de custos relacionados à sucessão
  • Evita disputas judiciais ou bloqueios
  • É impenhorável e intransferível

"Nos últimos anos, o seguro de vida foi se modernizando ao ponto de ser reconhecido como uma ferramenta de liquidez para as famílias que já têm patrimônio constituído", explica Larissa Althoff, especialista em seguros.

Entre as modalidades disponíveis, o Whole Life (vida integral) destaca-se como opção de seguro vitalício com características específicas para o planejamento sucessório, oferecendo:

  • Prêmio nivelado (sem reajuste por idade)
  • Ausência de reserva acumulada (reduzindo custos em até 30%)
  • Possibilidade de quitação por período determinado
  • Capital segurado livre do imposto ITCMD

Investimentos no exterior: diversificação e proteção global

Investir no exterior é outra estratégia cada vez mais considerada por famílias de alta renda que buscam diversificação e proteção patrimonial em seu planejamento sucessório. Esta opção é recomendada principalmente para quem possui um volume significativo de recursos para investir no mercado internacional.

Para implementar esta estratégia, é necessário ter pelo menos cerca de US$ 300 mil (equivalente a cerca de R$ 1,6 milhão) alocados fora do país, sem contar o custo de manutenção que ultrapassa os US$ 2 mil anuais.

Benefícios dos investimentos internacionais para sucessão:

  • Diversificação cambial efetiva
  • Acesso a mercados e ativos globais
  • Proteção contra instabilidades econômicas locais
  • Estruturas sucessórias mais flexíveis

A complexidade da estrutura e os custos adicionais de manutenção e gestão tornam esta estratégia pouco viável para patrimônios mais modestos, sendo mais indicada para famílias com alta capacidade de investimento.

Holdings imobiliárias: organização patrimonial para grandes fortunas

A holding é outra estratégia de planejamento sucessório utilizada por famílias que possuem um patrimônio significativo, especialmente em imóveis. Trata-se da criação de uma empresa que detém os bens, facilitando a organização, a gestão e a transferência desses ativos entre gerações.

"Essa estratégia não é para todos; é mais adequada para quem tem um volume de imóveis que justifique os custos e a complexidade da estrutura", esclarece Sharon Halpern.

Principais vantagens da holding imobiliária:

  • Simplificação da sucessão patrimonial
  • Distribuição de cotas em vez de imóveis específicos
  • Maior controle sobre a divisão e gestão dos ativos
  • Possível redução da carga tributária na transferência

A estruturação e manutenção de uma holding implicam custos consideráveis, como despesas contábeis, jurídicas e de registro. Por isso, esta estratégia é mais recomendada para famílias com patrimônio imobiliário substancial.

Personalização: a chave para o sucesso

O planejamento sucessório eficaz para famílias brasileiras de alta renda requer uma abordagem personalizada que considere a estrutura familiar, o volume patrimonial e os objetivos específicos de cada caso. As estratégias apresentadas funcionam melhor quando combinadas adequadamente para atender às necessidades particulares de cada família.

Com o crescimento contínuo do número de milionários no Brasil, a importância de um planejamento sucessório sólido torna-se cada vez mais evidente. Especialistas recomendam:

  • Buscar orientação profissional especializada
  • Consultar advogados e planejadores financeiros
  • Iniciar o planejamento o quanto antes
  • Revisar periodicamente as estratégias adotadas

A mensagem final dos especialistas é clara: não postergar o planejamento sucessório. O que muitos consideram um problema distante pode se transformar em uma situação emergencial a qualquer momento, e estar preparado é a melhor forma de garantir que o patrimônio construído seja preservado e transferido conforme os desejos do seu titular.

Referência bibliográfica:
Vitor Hugo Batista (InfoMoney) – Como famílias de alta renda planejam a sucessão patrimonial? Conheça as estratégias – 29-08-2025 – https://www.infomoney.com.br/autor/vitor-hugo/

Fonte: Vitor Hugo Batista (InfoMoney) – Como famílias de alta renda planejam a sucessão patrimonial? Conheça as estratégias – 29-08-2025

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